sábado, fevereiro 25, 2012

Conto: Passado renascido

Acordei com uma sensação estranha. Como de costume, relembrei o antigo e verdadeiro amor, mas não deixei que isso mudasse o belo dia que começava com um sol radiante no céu. Eu precisava levantar, tomar banho, comer alguma coisa, trabalhar, sair para almoçar, estudar e ir para a faculdade, porém uma força me segurava deitada, como se eu estivesse presa àquele colchão. Na verdade, o colchão representava o passado. Um passado bom, inesquecível e velho! Sim, um passado que ia morrer muito breve.
Olhei pro relógio. Eram 07h30min. Há dez anos, eu saía para o colégio. Como o tempo passa! Senti meu coração pulsar e ao mesmo tempo, um filme passou em minha cabeça, como se fosse possível reviver alguns momentos sem que eu saísse do meu apartamento.
“Daqui a pouco mamãe ligará”, pensei, mas mesmo assim, continuei imóvel. Os raios de sol, aos poucos, inundavam a sala. “Como enxergo a sala se estou no quarto?”, esse pensamento besta fez com que eu me desse por conta de que a porta de meu quarto estava aberta e isso não era normal. Por alguns segundos, senti medo e tive vontade de gritar. Permaneci deitada.
7h45min. Pulei! Ergui-me e vi meu rosto. “Cabelos de ouro, olhos cor de mel” e pensando isso fui em direção a sala. Olhei para os lados. Enxerguei os raios de sol e meu álbum, alias, um dos álbuns que olhei na noite passada. Havia ainda uma carta. A carta que entreguei e se perdeu e depois, jamais chegou ao destino. “Mas, as palavras ficaram no coração dele”. Senti uma lágrima escorrer e percebi que eu estava com saudade do meu passado e não podia deixar que ele morresse. Relembrei minha infância, meus pais, meu irmão, meus avós, meus amigos, lembrei dos meus 15 anos e tive vontade de correr. Entretanto, caminhei calmamente, em direção a janela e como se eu fizesse algo impossível, olhei para o sol e seus raios me deixaram uma sensação de maior saudade.
“Não aguento mais correr atrás de algo que não é para mim. Preciso ir embora. Preciso voltar para casa, para minha cidade, para meus amigos, para as festas. Preciso ser meu passado.”
Fui até o banheiro. Escovei-me, penteei os cabelos e mirei-me no espelho. Eu havia mudado, mas mesmo assim, não perdi minha essência. Lembrei o dia em que uma pessoa elogiou meu olhar. Desde então, passei a valorizar meus olhos. “Como eles são lindos”, pensei, “são o maior tesouro que Deus me deu.” Mais uma vez, a vontade de correr foi intensa. Tive a ideia de caminhar na beira do lago central da cidade, mas eu não podia. Havia a obrigação de trabalhar me esperando e eu nunca abandonaria meus deveres.
Cheguei a cozinha, olhei ao redor e uma alegria tomou conta de mim, mas a alegria foi tão intensa que fez com que eu tivesse coragem e corresse até meu quarto. Abri o guarda roupa, peguei a mala de viagem e ali coloquei minhas roupas o mais rápido possível. Vesti-me com uma calça jeans, tênis e regata. Guardei em uma mala e uma bolsa tudo o que era meu.
Saí pela porta do apartamento com uma sensação de liberdade e o desejo de encontrar o meu passado, enquanto havia tempo para revivê-lo.

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