sábado, março 24, 2012

Conto: Recordações

Ao acordar, senti frio. Parecia que o inverno estava voltando e fiquei feliz com isso. Tinha a esperança de que o vento frio de junho, julho e agosto levassem embora as angústias, a ansiedade do verão e principalmente, as dúvidas.
Eu não queria sair de casa naquela manhã, porque precisava pensar no que eu faria dali para frente. Morar sozinha numa cidade desconhecida e, ainda por cima, ter de conviver com pessoas inconvenientes, trazia uma saudade imensa de casa. Era sexta-feira e isso deveria ser uma motivação para que eu fosse trabalhar e, a noite, ir para a faculdade, aprender as técnicas da comunicação, mas não. Eu queria mesmo era ficar em casa, deitada de preferência, para pensar.
Há dias em que minha única vontade é refletir sobre quem eu sou e o que eu quero. Porém, isso muda todos os dias. É difícil ser uma em meio a pessoas tão diferentes e complexas. Queria me libertar de todas as confusões!
Criei forças e levantei da cama. Tomei banho, vesti-me e fui à cozinha, preparar um café. Então, de repente, tive vontade de sair e foi isso que fiz.


A rua estava movimentada. Pessoas quase correndo, com certeza, para que não chegassem atrasadas ao emprego. Vi um grupo de meninas, devidamente uniformizadas. Devem ir para a escola! Pareciam ter entre quatorze e dezesseis anos e estavam felizes. Senti maior saudade, ainda, dessa fase.
Continuei caminhando pelo centro, até que deparei-me com uma mulher, que eu conhecia. “Quem era?”, pensei. Ela parou diante de mim e perguntou se eu ainda lembrava dela. Confessei que não sabia de que lugar, de que momento, mas eu a conhecia.
Para minha surpresa, era uma amiga que havia ido embora, antes mesmo de que eu terminasse o Ensino Médio e, então, voltou. Estava morando, trabalhando e estudando na mesma cidade que eu. Era Bianca. Chorei, chorei de emoção por encontrá-la depois de tanto tempo.
Muita coisa havia se perdido, mas outras podiam ser recuperadas, porque eram verdadeiras. Conversamos por alguns minutos, até que olhei para o relógio que havia no centro da cidade e vi que faltava quinze minutos para o expediente começar no Jornal. Peguei o número do telefone de Bianca, seu endereço e despedi-me.
Enquanto caminhava rumo ao trabalho, percebi o quanto foi bom ter criado coragem e ter saído caminhar. O destino é fascinante. As coisas acontecem como têm de ser. Eu estava sorrindo.


Dali alguns dias, encontrei Bianca novamente. Conheci seus colegas de faculdade e passamos a conviver como nos velhos tempos. Como eu saía mais, conheci novas pessoas, reencontrei velhos amigos e isso fez com que eu visse aquela enorme cidade como do tamanho exato para minhas expectativas.
Tive várias surpresas ao longo daqueles anos. Revi pessoas que eu jamais esperava encontrar. Fortaleci novamente os laços e um novo mundo se formou para mim. A faculdade, além de festas, era também estudo e eu conseguia conciliar tudo: diversão, trabalho e minha realização profissional.


Certa manhã, quando cheguei ao Jornal, fui convidada para ser apresentadora de um programa informativo. Não pensei duas vezes e aceitei. Era meu sonho, era o início de um tempo em que eu me tornava adulta.
Depois de dois dias, descobri que eu só me tornava apresentadora porque um novo colega ocuparia meu espaço na edição do Jornal. Era mais um reencontro com uma pessoa especial que se concretizava.

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